Cooperação intersetorial para desenvolvimento territorial na Amazônia gera novo Fundo Filantrópico

A Sitawi fará a gestão de um projeto de desenvolvimento territorial na região do Médio Juruá, no Amazonas. O projeto tem apoio da USAID e é realizado em parceria com a Natura e a Coca-Cola Brasil.

O Fórum de Desenvolvimento Territorial do Médio Juruá (AM) acaba de receber um aporte de US$ 2,3 milhões da USAID, agência de desenvolvimento internacional do governo norte-americano. O investimento será destinado a ações de educação, saneamento, infraestrutura, acesso à água potável e estudos sobre as cadeias produtivas da região, como açaí, andiroba e murumuru.

O plano de desenvolvimento da região apresentado à USAID foi coordenado pela Sitawi Finanças do Bem, que será a executora do projeto e responsável por gerenciar as atividades em parceria com as organizações do território.

Rob Packer, gerente de Finanças Sociais da Sitawi, exalta a cooperação e a escuta das mais de 5 organizações envolvidas no processo. “Todo o desenvolvimento do projeto se realizou a partir das demandas das populações. O projeto tem o potencial de ser transformador na região para empoderar as comunidades e servir como exemplo de como cadeias de valor sustentáveis podem conservar a biodiversidade e conduzir um desenvolvimento social na região. Isso deve ser um marco para outras regiões da Amazônia”, afirma Packer.

Luiz André Soares, gerente de Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, ressalta o caráter coletivo do desenho do projeto na região. “O processo de desenvolvimento territorial do Médio Juruá desenha uma trajetória rica em trabalhos coletivos, mas sobretudo em aprendizados para as diversas instituições comprometidas com o impacto social das comunidades ribeirinhas. A chegada da Sitawi permitiu um olhar mais cuidadoso sobre a matriz de materialidade do território, facilitando a gestão colegiada das ações de infraestrutura, educação, acesso à água e cadeias produtivas em nossa parceria com a USAID”, declara.

A região do Médio Juruá (AM) receberá o programa Água+ Acesso da Coca-Cola Brasil, que pretende viabilizar soluções inovadoras para o acesso e tratamento de água para consumo, uma prioridade para a região.  “Acesso à água é hoje um desafio de grandes dimensões no Brasil e investir nesse acesso gera enormes benefícios sociais e econômicos. É nosso papel promover a busca por soluções aos grandes desafios sociais e ambientais do país. Ao investir, apoiar e integrar atores-chave, parceiros, co-investidores e organizações de acesso à água em um plano de desenvolvimento sustentável, contando com o belo trabalho de articulação e mobilização implementado pela ASPROC, chegaremos a soluções sustentáveis”, afirma Luiz André Soares, gerente de Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil.

No caso da Natura, os investimentos devem se concentrar em realização de estudos locais, investimentos em fundos, fortalecimento da educação técnica e disponibilidade de recursos humanos para o desenvolvimento do projeto. Luciana Villa Nova, gerente de Sustentabilidade da Natura, comenta que, para melhorar a qualidade de vida na região, a parceria precisa ir além da medição. “A cooperativa dos agricultores extrativistas do Médio Juruá é nossa parceira há 17 anos. Contribuímos com a geração de renda de cerca de 400 famílias no local, atuando em parcerias que visam o desenvolvimento territorial, fortalecendo assim os agentes locais com novas ferramentas que orientem políticas e investimentos sólidos e direcionados à melhoria da qualidade de vida das populações amazônicas. Por isso, os investimentos anunciados são tão importantes.”

Projeto participativo
Além da participação das empresas, o Fórum conta também com agentes locais e tem o objetivo de integrar as organizações e instituições que atuam na região do Médio Juruá para promover o desenvolvimento socioeconômico das comunidades ribeirinhas.

De acordo com Anna Toness, Diretora do Programa para Conservação da Biodiversidade da USAID, a parceria com a Coca-Cola, Natura e Sitawi é um exemplo do trabalho colaborativo existente entre empresas privadas, setor público e organizações não-governamentais em prol do desenvolvimento socioeconômico sustentável das comunidades na Amazônia. “Nesta importante parceria junto com as comunidades locais compartilhamos nossas experiências, boas-práticas e recursos para atingir resultados de impacto que outrora sozinhos não seria possível alcançar”, disse Anna.  

Os recursos serão aplicados em cinco áreas prioritárias de acordo com um processo participativo de priorização. Estas são: conservação da biodiversidade e cadeias de valor sustentáveis, educação, energia, informação e comunicação, e o fortalecimento da figura do Fórum do Território Médio Juruá.

As ações incluem o manejo sustentável de pirarucu, a conservação de quelônios, o apoio para consolidar uma casa familiar rural na RDS, educação ambiental, sistemas agroflorestais e a pilotagem de sistemas de gestão de resíduos, de energia e de comunicação na região.

Medição dos resultados e Índice de Progresso Social (IPS)
As necessidades foram evidenciadas a partir da medição do Índice de Progresso Social – Comunidades (IPS), utilizado como instrumento de diagnóstico e avaliação socioambiental na região desde 2015.

O índice baseia-se na metodologia desenvolvida pelo professor e economista americano Michael Porter e mede o progresso social de países sem considerar fatores econômicos. A pesquisa é pioneira no mundo ao utilizar dados primários para avaliação de desenvolvimento socioambiental em nível local, a partir de uma iniciativa conjunta de Natura e Coca-Cola. Com o diagnóstico – elaborado com apoio técnico da Ipsos -, empresas, órgãos governamentais, ONGs e movimentos sociais podem alinhar os esforços de investimento na região.

Na segunda medição do IPS, destaca-se o progresso obtido entre 2015 e 2017 em relação ao acesso à água e ao saneamento básico, que avançou nove pontos percentuais entre a população urbana e 21 pontos percentuais entre os ribeirinhos, fruto do trabalho e da mobilização social das organizações do Fórum do Médio Juruá.

A geração de renda das famílias extrativistas também avançou no período, com crescimento de 9% entre a população urbana e 5% entre os ribeirinhos. Outro aspecto com evolução positiva é o acesso ao conhecimento básico, que aumentou seis pontos percentuais nos dois casos. Diante do contexto socioeconômico mais desafiador no Brasil nos últimos dois anos, o IPS registrou pequena queda de dois pontos percentuais entre os ribeirinhos e de quatro pontos na população urbana.

Plano de Desenvolvimento do Médio Juruá
A região do Médio Juruá, no estado do Amazonas, abrange uma área conservada com cerca de 250 mil hectares e uma sociobiodiversidade extremamente rica.

O Plano de Desenvolvimento Territorial do Médio Juruá, construído ao longo de 2014, é uma agenda de compromissos integrados de diversos atores locais, como poder público, organizações de base, sociedade civil e setor privado, em prol de resultados comuns. O Plano contempla atuação conjunta para a criação e execução de programas em sinergia, como condição para escalar o impacto de iniciativas de desenvolvimento nas dimensões sociais, ambientais e econômicas. O plano tem como base as vocações, recursos e potencialidades locais, com o intuito de construir uma identidade integradora, criar vantagens competitivas e garantir a sustentabilidade ao longo do tempo.

O processo partiu do fortalecimento de instituições e espaços de participação democrática e do engajamento de múltiplos atores, entre eles empresas, organizações da sociedade civil e poder público. Foi construído um diagnóstico participativo e definidos os temas prioritários para o desenvolvimento da região. A partir do diagnóstico, os participantes puderam repensar sua atuação no território, mapear sinergias e estruturar projetos e programas que atendam às questões apontadas como críticas. O resultado dessa agenda compartilhada é o Plano de Desenvolvimento Territorial do Médio Juruá, que possui um conselho de gestão próprio e encontros bimensais para governanças dos projetos, compromissos, metas e indicadores construídos coletivamente

 

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