*Por Júlia Bahia
Como parte da jornada por lutas e direitos, a III Marcha das Mulheres Indígenas aconteceu este mês em Brasília, sendo o maior evento do país feito por e para mulheres indígenas reivindicarem direitos originários. Neste ano, a maior reivindicação é pela representatividade política e pelo fim da violência de gênero. O evento reuniu 6 mil mulheres de diferentes povos, territórios e biomas. Além do evento, esse mês também foi marcado pelo fim do Marco Temporal para demarcação de terras indígenas, rejeição feita pelo STF que delimitava a demarcação de terras indígenas somente para as regiões ocupadas no ano de 1988, data da promulgação da Constituição Federal vigente. A decisão é vista como uma grande vitória pelo movimento indígena, excluindo a limitação temporal para oficializar territórios indígenas.
Diante de tantos acontecimentos e movidas pela força e importância deste mês, a Humana começará a implementar a segunda fase do Plano de Vida em outubro e tem como objetivo gerar desenvolvimento econômico para meninas e mulheres indígenas pertencentes à comunidade Pataxó Hã-Hã-Hãe, na Bahia. O projeto reúne uma gama de direcionamentos socioeducacionais que visam colaborar para que mulheres indígenas tenham autonomia para criar o seu próprio plano de vida, pautando em autonomia financeira, socioemocional e intelectual.
No âmbito do Programa de desenvolvimento econômico, o Plano de Vida irá beneficiar meninas e mulheres indígenas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, entre 16 e 24 anos. O objetivo principal é romper ciclos de violência e vulnerabilidade socioeconômica, além de influenciar na continuidade do programa no território para impactar as futuras gerações. O programa é implementado pela Humana e conta com investimento do Instituto Localiza e gestão financeira da Sitawi Finanças do Bem, instituições que dão suporte financeiro e filantrópico ao projeto.
Na visão de Hamangaí Pataxó, conselheira da Humana e do programa Plano de Vida, o principal impacto esperado é impulsionar meninas e mulheres da sua comunidade: ¨O meu desejo é que o projeto tenha esse papel de impulsionar essas vozes, esses sonhos, que sonhos individuais também são sonhos coletivos, e que a gente possa construir juntas e fortalecer para que os sonhos das outras possam vir a se realizar. Eu acho que o impacto é realmente termos esse movimento de empoderamento, de autonomia, de fortalecimento dessas meninas, de acolhimento também, e que a gente possa estruturar algo para dar possibilidade para a juventude da mulher indígena¨.
Durante 12 meses, o objetivo é realizar atividades educacionais, com oficinas e mentorias com profissionais de áreas ligadas ao programa para facilitação na própria comunidade. A ementa educacional foi desenvolvida por especialistas e abrange temas que visam apoiar meninas e mulheres indígenas no desenvolvimento. A metodologia do projeto foi definida a partir de evidências científicas que apontam que a faixa etária marcada pelo fim da adolescência e início da vida adulta é o momento em que as jovens são confrontadas com decisões que influenciarão toda sua trajetória de vida nos âmbitos intelectual, socioemocional e financeiro.
Sabemos que a dinâmica em contexto indígena parte de um funcionamento próprio da comunidade e que será respeitado a todo momento durante a execução do projeto. O projeto será direcionado sempre pela premissa de impactar e apoiar neste desenvolvimento econômico das meninas e mulheres, mas que serão feitos e desenvolvidos por meio de uma autonomia própria visando a não imposição de padrões não-indígenas.
“É muito gratificante acompanhar a evolução das ações da Humana em prol dos direitos de meninas e mulheres. A renovação desta parceria só reforça para a gente que estamos no caminho certo de apoiar iniciativas sociais e ambientais que fazem a diferença. Temos grandes expectativas sobre o novo programa voltado para as mulheres e meninas Pataxó Hã-hã-hãe e esperamos que seja um sucesso”, declara Joana Eisenstadter, coordenadora de Gestão de Filantropia da Sitawi.