Empresas buscam iniciativas de impacto social na Amazônia

Por Sergio Adeodato, de Manaus para o Valor Econômico

A expansão de pequenos negócios inovadores que lucram fazendo o bem, verificada nos últimos anos em polos do Centro-Sul e Nordeste, chega agora com maior força à Amazônia. O movimento busca soluções capazes de aliar a lógica de mercado ao uso sustentável e à manutenção da maior floresta tropical do planeta, com expectativa de ganhos nos indicadores de desenvolvimento. Como marco dessa tendência, quatro startups da floresta alinhadas ao desafio socioambiental receberam em novembro uma notícia capaz de fazê-las mudar de escala: o acesso a recursos no total de R$ 1,1 milhão, para impulsionar inovações nascentes.

No 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia, realizado em Manaus (AM), outras dez iniciativas foram selecionadas para um programa de aceleração dos negócios em áreas que vão da educação a alimentos. “O movimento está no centro das transformações necessárias à economia da Amazônia, que abriga 25 milhões de brasileiros e representa menos de 8% PIB do país”, diz Mariano Cenamo, pesquisador do Idesam, ONG voltada a projetos de desenvolvimento sustentável na região. “Em momento político-econômico delicado, a iniciativa privada deve assumir o protagonismo das soluções, independentemente de governos”.

Jovens “millennials” olham os desafios ambientais e sociais da floresta como oportunidade de receita, no cenário que precisa ser repensado: “Os pilares que reduziram o desmatamento e a pobreza baseados na transferência de renda pelo governo federal, já não se sustentam”, diz Denis Minev, investidor de impacto e presidente da Bemol, rede de varejo que integra a plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) – aliança que foi criada no ano passado para construir caminhos inovadores com as empresas e é responsável pela realização do evento de startups em Manaus como vitrine de mudanças. Para o empresário deve-se aumentar a escala dos projetos-piloto já existentes em bioeconomia, com maiores aportes em tecnologia e produtividade, e nesse sentido a Zona Franca de Manaus “precisa se reinventar”.

Os fundos associados somam um potencial de investimento de R$ 2,8 bilhões por ano que poderiam fomentar inovações, mas, segundo analistas, não têm sido bem utilizados. Segundo levantamento da Ande Brasil, os negócios sociais movimentam US$ 60 bilhões no mundo, com crescimento de 7% ao ano. “Mas, na América Latina, cerca de 70% das empresas em estágio inicial não têm acesso a capital para crescer”, afirma Nicole Etchart, diretora da NESst, organização global de investidores de impacto. De painéis para construção com fibras do açaí à ração mais barata para piscicultura à base de sobras de polpas, as inovações amazônicas surfam na onda da economia circular. E também da indústria 4.0, como faz o negócio da ManaósTech, escola de programação e robótica para crianças sediada em Manaus.

Além disso, velhos produtos ganham valor com cara nova: no negócio Encauchados de Vegetais da Amazônia, em Castanhal (PA), a borracha se revitaliza ao incorporar pó de madeira das serrarias na forma de sandálias com a pegada socioambiental. A receita de R$ 400 mil neste ano permite renda extra a comunidades, assim como ocorre na startup Da Tribu, de Mosqueiro (PA), que resgata a técnica indígena de cobrir fios de algodão com látex, na produção de colares e pulseiras.

“Na Amazônia os negócios são mais caros, arriscados e demorados, e Empresas buscam iniciativas de impacto social na Amazônia o cenário exige novos mecanismos de investimento para os recursos fluírem”, diz Leonardo Letelier, diretor da Sitawi, gestora de fundos com R$ 22 milhões aplicados em cem organizações que impactam 350 mil pessoas. Para Anna Tonnes, diretora de meio ambiente da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), parceira de investimentos na região, “o momento é oportuno, porque a conservação da floresta depende da dinamização da economia e pela primeira vez setores antes antagônicos sentam à mesma mesa”. As novidades chegam ao Fundo Amazônia, mantido por doações da Noruega e Alemanha com apoio de R$ 1,8 bilhão em dez anos, sendo R$ 440 milhões para atividades de produção sustentável. “O plano é se integrar ao movimento de startups com a combinação de modelos de financiamento, mesclando recursos não reembolsáveis aos privados”, diz Daniela Baccas, chefe do departamento de meio ambiente do BNDES.

Investimento de Impacto na Amazônia: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável

O estudo “Investimento de Impacto na Amazônia: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável” tem como objetivo traçar uma imagem da região, identificando mecanismos de investimento, tipos de empreendimento, cadeias de valor, obstáculos e oportunidades ao investimento na área. A publicação foi produzida pela Sitawi Finanças do Bem, através da iniciativa PPA – Parceiros Pela Amazônia, gerida pelo IDESAM – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia e financiada pela USAID – Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, através do CIAT – International Center for Tropical Agriculture. 

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